Nas minhas conversas com líderes, o que ouço já não é entusiasmo com o crescimento — é exaustão disfarçada de eficiência. É o silêncio depois de um “está tudo bem” ou o encolher de ombros enquanto dizem “é só uma fase”. Isso faz-me questionar muitas vezes se o maior ato de liderança hoje… não será a capacidade de parar.
Vivemos tempos em que as organizações sentem uma pressão constante para crescer, escalar, acelerar. A linguagem dominante nos negócios (e na sociedade) ainda privilegia métricas de produtividade, expansão e performance contínua. Durante anos fomos ensinados que liderar bem é escalar com eficiência: aumentar equipas, operações, resultados, impacto.
Enquanto líderes, habituámo-nos ao léxico da velocidade, como se o único caminho possível fosse fazer sempre mais e mais. Mas… e se o futuro da liderança não estiver em escalar mais rápido, mas sim em regenerar mais profundamente?
Como facilitadora de processos de autoconsciência e transformação cultural em organizações, tenho testemunhado, com frequência crescente, um cansaço estrutural. Os líderes estão exaustos e as equipas oscilam entre a hiperprodutividade e o esgotamento. Mesmo em contextos que integram práticas ágeis, onde se fala de adaptabilidade, autonomia e inovação, é fácil que tudo se reduza à velocidade, ao sprint, à entrega constante.
Mas a verdadeira agilidade não é só correr mais depressa. É responder com consciência. É criar espaço para a escuta, a presença e o impacto sustentável. É construir equipas que não só entregam, mas também se regeneram. Que não só reagem, mas também refletem.
Este é um paradoxo difícil de ignorar: quanto mais insistimos em crescer a qualquer custo, mais fragilizamos os sistemas humanos que sustentam esse crescimento. Por isso acredito que é tempo de emergir um novo paradigma. Um paradigma mais sustentável, mais profundo e, arrisco dizer, mais humano. Um paradigma que nos convida a regenerar, em vez de continuar a acelerar de forma automática e desenfreada.
Pausar não significa abdicar de crescer, significa crescer com discernimento. Demasiada velocidade conduz inevitavelmente ao piloto automático e o piloto automático raramente é fértil em inovação. Quando crescemos sem consciência, não estamos necessariamente a evoluir. Muitas vezes estamos apenas a repetir padrões antigos com mais intensidade. E é aí que surge o verdadeiro risco: exaustão, desmotivação, apatia, perda de talento e de resiliência organizacional.
O que proponho não é abrandar por abrandar. É reconhecer que, por vezes, só na pausa conseguimos escutar o que verdadeiramente precisa de emergir. Só nesse espaço conseguimos ajustar a direção, redefinir a estratégia e identificar o ritmo mais sustentável, que permita crescimento com futuro, não apenas com pressa.
Acredito profundamente que a liderança consciente, se quiser ser mais do que uma ideia bonita, precisa de se enraizar neste princípio regenerativo. Porque consciência sem ação integrada… não transforma.
Esta regeneração não é um conceito etéreo – é uma prática. Carol Sanford, uma das pioneiras nesta abordagem, lembra-nos que as organizações mais vivas e resilientes são aquelas que investem no desenvolvimento humano como núcleo estratégico e não como um complemento.
Pessoalmente, tenho tido o privilégio de acompanhar líderes e equipas que, mesmo em ambientes de elevada exigência, escolhem parar. Respirar. Sentir o que já não está a funcionar, não só nos processos ou objetivos, mas nas relações, nos ritmos, nos modos de ser. E é nesse parar, nesse desacelerar consciente, que algo começa, lentamente, a mudar.
Regenerar exige coragem.
A coragem de parar quando tudo à nossa volta pede pressa.
A coragem de escutar quando o ruído interno grita soluções.
A coragem de mudar o que já não serve, mesmo que tenha sido útil um dia.
A coragem de liderar com presença, quando o sistema te empurra para a reatividade.
Acredito profundamente que o futuro da liderança consciente depende desta viragem. De conseguirmos substituir o impulso de fazer sempre mais pelo compromisso de fazer com mais intenção. De decidir menos por reação automática e mais por alinhamento. De criar culturas onde seja possível crescer… sem nos perdermos.
Esta não é uma proposta contra o crescimento. Regenerar não significa fazer menos. Significa fazer com mais presença, mais propósito e mais consciência.
O que poderia mudar em si, na sua equipa, na sua organização… se criasse mais espaço para regenerar?
Artigo publicado originariamente em: https://executiva.pt/regenerar-em-vez-de-escalar/