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Primeiros passos para uma liderança compassiva

[Nota: este artigo foi publicado em executiva.pt em 21 de maio]

“Liderança” e compaixão” são duas palavras que à partida não esperaríamos encontrar na mesma frase. Durante muitos anos a perceção popular de um líder relacionava-se com o ser forte, racional, decidido, obstinado e voltado para resultados, com competências mais técnicas, operacionais e cognitivas. Uma Liderança Executiva, como habitualmente nos referimos. No entanto, apesar dessas competências serem válidas, ao longo dos últimos anos tomou-se maior consciência da importância da colaboração dentro de uma equipa e entre diferentes equipas e de que é ao nível das emoções que residem muitos dos desafios não só de bem-estar dos colaboradores, mas também do seu desempenho e produtividade. É deste modo que o tema da empatia e compaixão começa a ter cada vez maior presença e importância dentro das organizações.

Clarifiquemos primeiro então o que é isto da compaixão, até porque na nossa cultura esta palavra está muitas vezes associada a um outro tipo de conceitos tais como ter pena, ser condescendente ou ter uma relação de superioridade e vitimização.

Uma definição simples de compaixão é o desejo de ajudar. A compaixão deriva da capacidade de sentir empatia, de estar atento, de uma compreensão cognitiva e emocional da experiência e vivência do outro. Gera um sentimento de gentileza e uma intenção de ajudar e de estar ao serviço, fomentando a ação.

Joan Halifax (antropologista americana com um largo trabalho na área da compaixão) refere que “a compaixão não é um luxo; é uma necessidade essencial para nosso bem-estar, resiliência e sobrevivência”, devendo por isso fazer parte não só da liderança, mas do simples facto de sermos humanos e vivermos em sociedade.

É importante referir que ser compassivo não é “curar” ou “reparar” o outro. É ter a intenção de ajudar com os nossos recursos, tempo e atenção, mas mantendo o discernimento de quais são os limites, do processo emocional do outro e do nosso próprio processo. Quando empatizamos muito com o sofrimento do outro sem este discernimento, facilmente entramos em stress empático o que impede que consigamos dar a nossa melhor ajuda. Por essa razão, é essencial que o líder trabalhe o seu próprio auto-conhecimento e auto-regulação emocional, para que possa mais facilmente encontrar este equilíbrio.

Bom para o líder. Bom para a equipa.

Ao longo dos últimos anos, a neurociência tem demonstrado que cultivar a compaixão promove, para o próprio, um maior bem-estar, uma melhor integração neuronal, melhor conexão com os outros e até uma melhoria do sistema imunológico.

No que diz respeito às equipas e organizações, os estudos efetuados na área têm demonstrado que uma liderança mais compassiva facilita:

  • um maior envolvimento e compromisso dos colaboradores
  • um melhor desempenho no trabalho de equipa
  • uma maior coesão nas decisões
  • um ambiente de maior segurança psicológica
  • um maior bem-estar
  • um maior estímulo à inovação e criatividade
  • uma menor rotatividade dos colaboradores

Como ser um líder mais compassivo

Temos todos características e personalidades diferentes, com maior ou menor impulso pro-social, mas a boa notícia é que, tal como refere o investigador Richard Davidson: “a compaixão é uma competência treinável e a prática pode realmente alterar a maneira como o nosso cérebro perceciona as emoções do outro e aumenta a nossa capacidade para agir”. Aqui seguem algumas dicas de como se tornar um líder mais compassivo:

  1. Pratique compaixão consigo mesmo. Como refere Serena Chen, professora de psicologia da UC-Berkeley: “A autocompaixão e a compaixão pelos outros estão interligadas … Ser gentil para consigo e não se auto-julgar é uma prática essencial para desenvolver a compaixão pelos outros”. Os estudos indicam que a auto-compaixão desenvolve a resiliência, a mentalidade de crescimento e a motivação para fazer melhor. Sabemos ainda que os líderes que desenvolvem um maior auto-conhecimento (através de práticas de Mindfulness por exemplo) e que demonstram maior compaixão por si mesmos e pelos outros, constroem ambientes de maior confiança que levam a um maior envolvimento e a um desempenho mais sustentável nas suas equipas e organizações.
  2. Crie um ambiente de segurança psicológica dentro da sua equipa. Um líder inspira sobretudo pela sua atitude e por vivenciar aquilo que diz e exige. Viva os valores pelos quais quer que a sua equipa se reja. Enquanto líderes, muitas vezes temos receio de demonstrar algum tipo de autenticidade, vulnerabilidade e abertura para com os outros colaboradores, mas ela é essencial para criar ambientes onde os outros possam fazer o mesmo sem o receio de ser julgados, abrindo espaço para uma maior criatividade, colaboração e um melhor desempenho.
  3. Conheça as motivações mais profundas dos seus colaboradores. Quebre as barreiras muitas vezes existentes conhecendo melhor os contextos individuais, as necessidades, preferências e motivações dos seus colaboradores. Do ponto de vista profissional, isso permite-lhe por exemplo, organizar as equipas de modo a que as suas forças motivacionais individuais possam ser melhor utilizadas. Permite ainda saber como ajudar a ultrapassar os obstáculos que os impedem de executar as tarefas ou atingir uma melhor performance.
  4. Escute de forma mais consciente e efetiva. Dedique atenção e presença quando falar com cada colaborador individualmente ou em equipa. Escute de forma generosa e atenta, eliminando o máximo de distrações. Mesmo em conversas mais difíceis evite a autoridade ou a agressividade, fale de forma honesta, mas com abertura, use linguagem pessoal e coloque-se na situação do outro.
  5. Pratique formas de ajudar. Convido-o a utilizar esta microprática de compaixão: ao ser confrontado com qualquer situação, reunião ou conversa que requeira a sua participação, pare, respire e traga à sua mente o pensamento: “Como posso ajudar esta pessoa nesta situação?”. Faça desta uma pequena voz secreta que o acompanha e surpreenda a sua equipa estando atento e oferecendo apoio (o que não significa resolver a situação), para que eles o reconheçam também como um provedor de ajuda.
  6. Ajude os colaboradores a cultivar uma atitude compassiva. A sua atitude compassiva para com os outros irá inspirar os seus colaboradores a adotarem uma atitude mais compassiva entre eles. Atitude essa que deve ser reconhecida e valorizada.

É importante reforçar que ser um líder compassivo não significa concordar obrigatoriamente com a opinião ou atitude do outro ou não estabelecer limites.  Um líder pode ser compassivo dando abertura para entender a perspetiva do outro, “sentir com” o outro, respeitar o valor e as emoções do outro e ainda assim fazer críticas construtivas, comunicar limites ou dar más notícias, por exemplo.

Uma urgência, não uma moda

A liderança compassiva é muito mais do que uma moda dos tempos modernos ou mais um complemento agradável à lista de competências de liderança exigidas pelas empresas ou oferecidas pelas empresas de formação. É um requisito humano, social, empresarial que se torna essencial e urgente para lidarmos com os desafios atuais e desenvolvermos organizações e sociedades mais felizes e colaborativas.

Num estudo efetuado com 1.000 líderes de 800 organizações, 91% deles disseram que a compaixão é muito importante para a sua liderança e 80% afirmaram que gostariam de aumentar a sua compaixão, mas não sabem como. Se também faz parte destes líderes que gostariam de aprender a cultivar mais a sua compaixão no contexto de trabalho, saiba que a Liderança Compassiva é um dos módulos do programa SEARCH INSIDE YOURSELF, um curso de inteligência emocional, liderança e mindfulness, que a Academia Executiva promove em Junho.

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