O retorno ao local de trabalho permanece algo incerto para a grande maioria das pessoas. Mesmo com o esquema de vacinação completo, os cuidados devidos e o regresso lento a uma certa “normalidade”, muitos dos colaboradores sentem-se inseguros por interromper a nova rotina criada e retornar ao local de trabalho com novas e diferentes dinâmicas. As organizações enfrentam desafios únicos, com novas exigências na construção desta nova fase, sendo fundamental liderar e apoiar as equipas durante a transição de volta ao trabalho.

Reconhecer a fadiga pandémica

A fadiga pandémica é um fenómeno esperado e natural de reação individual de exaustão descrito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e que se prevê que atinja mais de 60% da população, devido às intensas exigências de comportamento de proteção individual e coletiva contra o novo coronavírus.

Aqui estão alguns dos sinais:

• Falta de motivação e sentimento de ineficácia
• Muito cansaço, mesmo quando o sono é adequado
• Irritabilidade
• Ansiedade ou stress (muito associado à insegurança)
• Dificuldade de concentração

Se sentir algum destes sinais (em si ou na sua equipa) saiba que este é um processo natural a que é necessário estar atento e que é importante encontrar ferramentas de apoio que ajudem a ultrapassar esta situação e a impedir o seu agravamento.

Conhecer as preocupações

Apesar da pandemia ter afetado todas as pessoas de alguma maneira, cada uma delas experienciou certamente situações diferentes. Perderam a conexão com colegas, familiares e amigos, alguns perderam entes queridos, outros gostaram de estar em casa mais próximos dos seus… É por isso fundamental aprender mais sobre como este tempo histórico impactou os colaboradores, o que resultou dessa experiência e que receios ou necessidades sentem. Caso esteja a liderar uma empresa ou uma equipa é fundamental reconhecer as preocupações e necessidades mais reportadas:

• Interação física com outros: voltar a interagir com muitas pessoas pode ser estranho ao fim deste tempo mais isolados.
• Riscos à saúde: as pessoas sentem que mesmo com a vacinação o risco pode existir.
• Transporte: Algum receio dos transportes públicos mas ao mesmo tempo do trânsito intenso.
• Cuidadores: A necessidade de cuidar de algum ente querido, o que no escritório não é possível.
• Rutura de novas rotinas: Nova adaptação a horários, modos de estar, etc.

Cultivar a resiliência

Construir e promover resiliência ajuda os funcionários a gerir melhor as situações se stress e a enfrentar os desafios no trabalho.

• Incentive e ofereça oportunidades para práticas que fomentem a resiliência emocional tais como a prática de mindfulness e meditação.
• Facilite o acesso a ferramentas que desenvolvam a resiliência cognitiva tais como a psicologia positiva, o coaching, entre outros.
• Trabalhe com a equipa de liderança na modelagem saudável do comportamento perante os desafios, valorizando a aprendizagem a partir do erro e enfatizando o movimento positivo.
• Promova ambientes de segurança psicológica em que os colaboradores se sintam confortáveis a partilhar as suas ideias sem receio do julgamento.
• Crie um ambiente de trabalho saudável que permita às pessoas definir limites razoáveis ​​de horas de trabalho, priorizar o sono,  fazer atividade física e outros gestos de autocuidado.
• Reconheça as capacidades e o valor dos colaboradores e proactivamente  valide e celebre o seu contributo para fomentar a autoconfiança e criar um ambiente de trabalho mais positivo.

Tornar a saúde e o bem-estar uma prioridade

Lembre os colaboradores sobre os recursos disponíveis de saúde mental e bem-estar existentes e avalie a criação de novos recursos:

• Benefícios e recursos: Forneça uma lista abrangente de recursos de saúde e bem-estar disponíveis na sua organização/ empresa e também em organizações e associações externas.
• Gestão de stress: Ofereça orientação sobre como promover a saúde e o bem-estar ao longo do dia. Incentive e facilite o acesso a atividades como exercício físico, ioga, mindfulness e meditação.
• Iniciativa de Saúde e Bem-estar mental e emocional: Pense sobre o lançamento de uma iniciativa de saúde e bem-estar que permita acompanhar e ajudar os colaboradores no regresso ao local de trabalho.

Colaborar e ser flexível

Para muitos, pode ter sido fácil quebrar hábitos no início da pandemia devido ao claro senso de urgência, mas quebrar hábitos novamente pode ser mais difícil para alguns. Enquanto uns sentiram imensos desafios a trabalhar em casa, outros adaptaram-se e sentiram benefícios com o trabalho remoto. É importante permitir que os colaboradores voltem numa transição gradual e cuidada. Envolva os colaboradores tanto quanto possível na criação da nova “normalidade”. Isso permitirá aproveitar as aprendizagens desta fase pandémica e a partir delas construir ambientes de trabalho mais efetivos e colaborativos!

E enquanto colaborador?

As organizações (e os líderes) têm uma responsabilidade adicional na criação de uma cultura e de um ambiente que fomente o bem-estar dos seus colaboradores. Por outro lado, é fundamental que cada colaborador tem também a sua responsabilidade individual de procurar formas de desenvolver o seu autoconhecimento, a sua resiliência e o seu bem-estar, comunicando as suas necessidades e contribuindo para um ambiente mais eficaz e construtivo.

Este artigo foi elaborado tendo por base o folder “Returning to the Workplace” da sociedade Americana de Psiquiatria